Conceito e classificação
Os principais representantes deste grupo são: vancomicina, teicoplanina e ramoplanina. Diversos glicopeptídeos estão em fase de pesquisa clínica e não são disponíveis no mercado nacional.
Vancomicina
Foi introduzida para uso clínico em 1958, mas sua utilização em maior escala iniciou-se nos anos 80, com o surgimento de infecções por estafilococos resistentes à oxacilina e redução da toxicidade por purificação das preparações disponíveis.
Teicoplanina
É amplamente utilizada na Europa para o tratamento de infecções por germes Gram-positivos. Quimicamente similar à vancomicina, mas apresenta maior lipossolubilidade que resulta em excelente penetração tecidual e meia-vida prolongada, entretanto, tem pouca penetração na barreira liquórica.
Mecanismo de ação
Apresentam um múltiplo mecanismo de ação, inibindo a síntese do peptideoglicano, além de alterar a permeabilidade da membrana citoplasmática e interferir na síntese de RNA citoplasmático. Desta forma, inibem a síntese da parede celular bacteriana.
Mecanismos de resistência
Durante muito tempo não foi descrito desenvolvimento de resistência entre as bactérias inicialmente sensíveis.
Os enterococos desenvolveram resistência aos glicopeptídeos, particularmente à vancomicina, devido a alterações genéticas na bactéria (gen vanA) que diminuíram o tropismo da droga pelo microrganismo.
Em estafilococos, o mecanismo de resistência à vancomicina até hoje não foi completamente elucidado, mas postula-se que possa ser pelo espessamento da parede celular bacteriana (resistência intermediária). Sugere-se, também, que possa ter ocorrido através da aquisição do gen vanA de um enterococo resistente à vancomicina (totalmente resistente).
Propriedades farmacológicas
Vancomicina
Por via intravenosa, tem boa distribuição na maioria dos tecidos. A meia-vida com função renal normal é de 6 a 8 horas; em pacientes anúricos, pode variar de 7 a 12 dias.
Teicoplanina
Sua farmacocinética favorável possibilita a administração intramuscular ou intravenosa em bolus e, devido a sua meia-vida prolongada, pode ser administrada uma vez ao dia. Em infecções graves deve ser utilizada dose de ataque.
Indicações clínicas da vancomicina
Usada como alternativa aos beta-lactâmicos em pacientes alérgicos. É uma alternativa no tratamento de infecções por estafilococos resistentes a oxacilina.
São exemplos: infecções em próteses (válvulas cardíacas, enxertos vasculares e “shunts” neurocirúrgicos ou de hemodíalise), endocardites, meningites pós-neurocirúrgicas e peritonites pós-diálise peritoneal. Com o surgimento de cepas de Enterococcus spp., resistentes à vancomicina e, mais recentemente, cepas de S. aureus, com sensibilidade intermediária à vancomicina e até mesmo resistentes à vancomicina, as indicações deste antimicrobiano devem ser cada vez mais revistas e restritas, pois seu uso indiscriminado é apontado como fator predisponente para o surgimento destes microrganismos resistentes. Desta forma, no tratamento da colite pseudomembranosa, causada pelo C. difficile, a vancomicina só deve ser utilizada após falha de tratamento com o metronidazol.
Indicações clínicas da teicoplanina
São similares às da vancomicina com a vantagem do intervalo, da via de administração e da menor toxicidade. Pode ser usada em pacientes que apresentaram reação alérgica grave à vancomicina, com a qual não apresenta reação alérgica cruzada. Em experiências clínicas abertas e comparativas, a teicoplanina foi bem tolerada e raramente exigiu a interrupção do tratamento.