Cazuza dizia que tinha tudo para dar errado. Tinha a língua presa, era filho de um homem poderoso da indústria fonográfica brasileira. Mas, por brilho e talento próprios, o cantor e compositor se tornou um dos grandes nomes da música brasileira, primeiro como líder da banda Barão Vermelho e, depois, na curta carreira solo.
Era poeta do primeiro time. E doce, rebelde, carinhoso, debochado. Viveu intensamente seus 32 anos. Morreu na manhã de 7 de julho de 1990, vítima de complicações decorrentes da aids. Nesta terça-feira, 7, completam-se 25 anos de sua partida. Desde então, com relação a doença, houve mudanças com relação ao tratamento aids no Brasil e no mundo.
Confira abaixo a evolução do tratamento da aids:
1991 – O terceiro antirretroviral DDC foi autorizado pelo FDA (órgão do governo dos Estados Unidos, responsável por controlar os alimentos e medicamentos) para pacientes intolerantes ao AZT. Contudo, nesta época, ficou claro que o AZT e as outras drogas estavam limitadas ao tratamento da Aids, pois o HIV desenvolvia resistência aos medicamentos que diminuíam sua eficácia. O Ministério da Saúde, no Brasil, dá início à distribuição gratuita de antirretrovirais.
1992 – A Aids passa a integrar o código internacional de doenças e os procedimentos necessários ao tratamento da infecção são incluídos na tabela do SUS. Combinação entre AZT e Videx inaugura o coquetel antiAids.
1993 – O AZT começa a ser produzido no Brasil. A OMS aprova a primeira vacina candidata a testes em larga escala em países pobres. No Brasil, é implantada a Rede Nacional de Isolamento do HIV-1, criada com suporte do Ministério da Saúde e da Unaids/OMS para mapear a diversidade genética do vírus no país e orientar a seleção de potenciais vacinas e medicamentos antiAids a serem utilizados por brasileiros.
1994 – Passou a ser estudado um novo grupo de drogas para o tratamento da infecção, os inibidores da protease. Essas drogas demonstraram potente efeito antiviral isoladamente ou em associação com drogas do grupo do AZT (daí a denominação “coquetel”). Houve diminuição da mortalidade imediata, melhora dos indicadores da imunidade e recuperação de infecções oportunistas. Ocorreu um estado de euforia, chegando-se a falar na cura da AIDS. Entretanto, logo se percebeu que o tratamento combinado (coquetel) não eliminava o vírus do organismo dos pacientes. Some-se a isso também os custos elevados do tratamento.
É criado o Unaids, integrado por cinco agências de cooperação de membros da ONU com o objetivo de defender e garantir uma ação global para a prevenção do HIV/Aids (Unicef; Unesco; UNFPA; OMS; e UNDP), além do Banco Mundial.
1995 – Estados Unidos aprovam nova classe de medicamentos antirretrovirais, os inibidores de protease. Novos medicamentos são lançados, aumentando as opções de tratamento.
1996 – Primeiro consenso em terapia antirretroviral regulamenta a prescrição de medicamentos antiHIV no Brasil. O tríplice esquema de antirretrovirais, que combina dois inibidores de transcriptase reversa e um de protease, começa a ser utilizado. A Lei 9.313 estabelece a distribuição gratuita de medicamentos aos portadores de HIV.
Acontece a Conferência Internacional em Vancouver, onde se anunciou a combinação de três drogas com efeitos mais efetivos que a terapia dual. No final deste ano, a Unaids reportou que o número de novos infectados havia declinado em vários países em que práticas de sexo seguro haviam sido disseminadas.
1998 – Pesquisadores norte-americanos dão início ao primeiro teste de um produto candidato a vacina anti-HIV/Aids. A Lei brasileira 9.656 define como obrigatória a cobertura de despesas hospitalares com Aids pelos seguros de saúde privados, sem assegurar despesas com a terapia antirretroviral.
1999 – O governo federal divulga redução em 50% de mortes e em 80% de infecções oportunistas, em função do uso do coquetel antiAids. O Ministério da Saúde disponibiliza 15 medicamentos antirretrovirais.
2000 – Cinco grandes companhias farmacêuticas concordam em diminuir o preço dos medicamentos utilizados no tratamento da Aids nos países em desenvolvimento, o que ocorreu devido a um acordo promovido pelas Nações Unidas.
2001 – No Brasil, é implantada a Rede Nacional de Laboratórios para Genotipagem. Organizações médicas e ativistas denunciam o alto preço dos medicamentos nos países em desenvolvimento. O país ameaça quebrar patentes e consegue reduzir o preço de medicamentos antirretrovirais. O HIV Vaccine Trials Network (HVTN) planeja a realização de testes com vacinas em vários países, incluindo o Brasil.
2004 – Foi lançado o algoritmo brasileiro para testes de genotipagem.
2006 – No Brasil, o preço do antirretroviral Tenofovir foi reduzido em 50%.
2007 – A Tailândia decide produzir uma cópia do antirretroviral Kaletra, e o Brasil decreta o licenciamento compulsório do Efavirenz. Acordo reduz o preço do antirretroviral Lopinavir/Ritonavir. A UNITAID reduz preços de medicamentos antirretrovirais em até 50%.
2008 – É inaugurada a primeira fábrica estatal de preservativos do Brasil e a primeira do mundo a utilizar o látex de seringal nativo no Acre.
É concluído o processo de nacionalização de um teste que permite detectar a presença do HIV em apenas 15 minutos. Fiocruz pode fabricar o teste, ao custo de US$ 2,60 cada. Governo gastava US$ 5 por teste.
O país investe US$ 10 milhões na instalação de uma fábrica de medicamentos antirretrovirais em Moçambique.
2010 – Pesquisadores da Universidade de Medicina de Berlim anunciaram ter curado Timothy Ray Brown, de 44 anos, usando células-tronco adultas retiradas da medula óssea de um doador que era imune ao vírus HIV, por causa de uma mutação genética. Mais de três anos depois do procedimento, não foram detectados sinais do vírus no corpo do paciente, o que, segundo os médicos, “sugere fortemente que o paciente foi curado”. Entretanto, os pesquisadores alertaram que a técnica é muito arriscada para se transformar em um tratamento padrão.
2011 – O Brasil anuncia a produção nacional de dois novos medicamentos para Aids – atazanavir e raltegravir – por meio de parcerias público-privadas e versão genérica do tenofovir, indicado para o tratamento de Aids e hepatites. O Ministério da Saúde distribui medicamento atazanavir em todo o Brasil.
2013 – Anúncio do “3 em 1”, unindo as drogas Lamivudina, Tenofovir e Efavirenz em um único comprimido. O uso dos medicamentos antirretrovirais é indicado para qualquer fase da doença. Teste rápido através do fluído oral é anunciado para venda em farmácia.
É anunciado ao mundo a cura de uma criança infectada com o vírus HIV. A notícia foi comemorada como um avanço no tratamento de recém-nascidos infectados com a doença. Tratava-se de uma menina nascida na zona rural do Estado de Mississipi, nos Estados Unidos, que recebeu doses maciças de antirretroviral apenas 30 horas após o nascimento, procedimento que usualmente é feito – e em dosagens menores – somente a partir dos quatro meses.
2014 – Após uma Conferência médica internacional sobre Aids e o Vírus HIV, nos Estados Unidos, cientistas anunciam um novo tratamento, em que ao invés de tomar vários remédios diariamente por toda a vida, portadores do vírus poderiam tomar uma única injeção de tempos em tempos.
Usando uma técnica batizada de “edição genética”, cientistas americanos retiraram células do sistema imunológico de 12 pacientes. Em laboratório, modificaram o DNA para tornar as células mais resistentes ao HIV. E injetaram o material de volta no organismo. Metade dos pacientes deixou de tomar os medicamentos tradicionais por um tempo. Mesmo assim, na maioria, os níveis de HIV caíram e ficaram baixos por vários anos.
Os pesquisadores esclareceram que não se trata de cura. Mas de uma forma de melhorar a resistência e a saúde dos pacientes.
Fonte:
https://www.hojeemdia.com.br/almanaque/linha-do-tempo-evolu%C3%A7%C3%A3o-no-tratamento-da-aids-desde-a-morte-de-cazuza-1.313837