Pesquisa realizada durante a epidemia de Sars mostra que a situação provoca reação semelhante ao estresse pós-traumático
Apesar de todos saberem sobre a necessidade de evitar qualquer convívio social para conter o novo coronavírus, controlar a vontade de ir para a rua ou encontrar outras pessoas é uma tarefa difícil. Enfrentar uma quarentena pode ter impacto na saúde mental dos indivíduos. É o que mostra uma revisão de pesquisas, publicada este mês na revista científica “The Lancet”, sobre os efeitos psicológicos da quarentena durante o período da epidemia de SARS, a síndrome respiratória aguda que surgiu em 2002. De acordo com o levantamento, 29% apresentaram sintomas de estresse pós-traumático, enquanto 31% tiveram depressão depois do isolamento.
Numa entrevista para a revista eletrônica “Quartz”, o psicólogo e escritor Frank McAndrew disse que uma quarentena pode ser especialmente angustiante porque as pessoas se veem à mercê de outros e de forças incontroláveis, como é o caso de uma pandemia. Como a médica geriatra Claudia Burlá afirmou na coluna de terça deste blog, já que os idosos devem ficar em casa, esta pode ser uma oportunidade para introduzir ou ampliar o alcance do mundo digital em seu dia a dia. Além de conversar com amigos e parentes, eles podem fazer exercícios e se divertir com jogos que ajudam a passar o tempo.
Os efeitos do isolamento ainda são tímidos no Brasil, mas pedi depoimentos sobre a experiência e agradeço a todos que compartilharam suas impressões. Fernando Adas percebe um aumento da solidariedade: “gente compartilhando álcool gel, conselhos, serviços”. Daniel Marques está há uma semana em casa e, para combater o tédio, visita museus virtuais e aproveita para arrumar todas as gavetas. Eduardo Zugaib escreve uma série de crônicas sobre o diário da quarentena, tentando abordar o tema de forma bem-humorada: “a escrita é terapêutica”, avalia. Já Alberto Monteiro Netto se preocupa com os profissionais liberais, autônomos e pequenos comerciantes: “esses não terão salário e ainda temo que depois haja um movimento de demissões”. A consultora de RH Claudia Fernandes divide com ele a inquietação: “os boletos vão continuar chegando”. Juliana Peixoto dos Anjos está em Portugal e assume: “estou tendo crise de pânico e ansiedade. Passo o tempo todo comendo, fumando ou na janela”. Elizabete Antunes também mora em Portugal, com o marido e a enteada, e reconhece que ficar trancada a angustia: “não vejo a hora de isso acabar. Minha casa é um QG animado de encontros, mas todos estão levando o isolamento a sério”. Teresa Cas vive em Cannes e afirma que normalmente é caseira, “mas estar proibida de sair vem me causando mal-estar e sinto fome à toda hora, o que não é normal. Preciso sair para alimentar os gatos de uma amiga, que não conseguiu voltar para a França, e sempre tenho que preencher um formulário para provar a necessidade de estar fora de casa, caso seja interpelada pela polícia”. Vamos precisar muito de uma corrente de solidariedade.
TEXTO RETIRADO DO SITE: https://g1.globo.com/bemestar/blog/longevidade-modo-de-usar/post/2020/03/19/o-impacto-de-uma-quarentena-na-saude-mental.ghtml