Menino estava em abrigo em Nova Iguaçu; estado já tem 189 casos da doença neste ano, e secretário diz que falta de vacinação pode gerar “tragédia”
RIO — Um bebê de oito meses, morto em 6 de janeiro deste ano, num abrigo em Nova Iguaçu, foi a primeira vítima fatal do sarampo no estado do Rio nas últimas duas décadas, segundo informou a Secretaria de Estado de Saúde.
Além do garoto que morreu, duas crianças e uma funcionária do abrigo no município da Baixada Fluminense também contraíram o vírus, mas, segundo a secretaria, já foram curadas.
O bebê David Gabriel dos Santos, de apenas 8 meses, deu entrada no Hospital Geral de Nova Iguaçu no dia 22 de dezembro, com quadro de pneumonia, e morreu no dia 6 de janeiro. Foi, também, o primeiro óbito provocado por sarampo no país em 2020.
David vivia no Educandário Santa Bárbara, que fica em Vila de Cava, Nova Iguaçu, e só teve o diagnóstico confirmado após a sua morte, no Hospital Geral de Nova Iguaçu (Hospital da Posse). No abrigo — uma instituição de acolhimento para crianças de zero a 12 anos vítimas de negligência, abandono ou violência —, outras duas crianças e uma cuidadora foram infectados e contraíram a doença. Todas passam bem. Depois da morte de David, a Secretaria estadual de Saúde determinou que todos ficassem em quarentena, que termina no dia 20.
A assistente social Alexsandra Celestino Silva Caetano, que trabalha no abrigo, acredita que o bebê contraiu a doença após sair do abrigo para atendimento médico em meados de dezembro.
— O David chegou aqui em setembro, trazido por ordem judicial. Ele estava internado, muito doente, no Hospital da Posse, quando foi afastado da família. David sempre apresentou problemas respiratórios e saúde frágil. A primeira vez que saiu do abrigo foi para receber atendimento na Clínica da Família da Vila de Cava, que fica a poucos metros do abrigo ‘— relatou a assistente social.
A história de abandono do menino está em segredo de Justiça. Desde que chegou ao abrigo, David apresentou vários quadros de problemas respiratório até ser internado com um quadro de bronquite. O seu quadro de saúde agravou-se para uma pneumonia. Ele precisou ser internado no Hospital da Posse no dia 22 de dezembro.
— Não sabemos se ele foi infectado durante o percurso ou internação. Em momento nenhum, Davi apresentou sintomas que indicassem que estava com sarampo. A desconfiança de que teria sido vítima da doença só surgiu quando uma das bebês ficou doente, após a morte de David. A médica viu que a menina tinha sintomas de sarampo, como manchas avermelhadas na pele, e pediu que fossem feitos exames no material de David que estava no hospital, por meio de sorologia — explicou a assistente social.
egundo o secretário estadual de Saúde, Edmar Santos, as crianças do abrigo foram vacinadas no ano passado. Na época, no entanto, o bebê tinha menos de seis meses, o que o impediu de ser imunizado.
— Por isso, é importante que todos tomem a vacina. Assim, estamos protegendo também os que não podem tomar. Pais, não caiam na armaçao das fake news — acrescentou Santos, referindo-se a mentiras espalhadas em redes sociais sobre riscos das vacinas.
Neste ano, até 9 de fevereiro, o Rio registrou 189 casos de sarampo no estado —mais da metade da quantidade verificada em todo o ano de 2019 (333 casos); em 2018, houve 20 registros da doença.
O secretário Edmar Santos alertou no início do mês que o risco iminente de uma epidemia de sarampo no estado é muito maior que do COVID-19, o novo coronavírus, que parece despertar uma preocupação maior das pessoas neste momento.
— As pessoas estão muito preocupadas com o coronavírus, que ainda não chegou, e não estão indo se vacinar contra o sarampo, que é um risco real — reclamou o secretário.
Segundo Santos, se as metas de vacinação não forem atingidas, o estado pode ultrapassar os 10 mil casos da doença neste ano.
— Como venho alertando desde 2019, é imprescindível que as pessoas se vacinem e que os pais levem seus filhos aos postos de saúde, já que este é o grupo mais suscetível no momento. Iniciamos uma campanha em janeiro e, até o momento, em torno de 10% do público aguardado buscou a vacina.
No Brasil, houve 18.203 casos de sarampo em 2019, com 15 mortes — 14 em São Paulo e uma em Pernambuco.
Desde a última segunda-feira está sendo feita uma campanha nacional de vacinação, que irá até 13 de março, com foco em pessoas de 5 a 19 anos. O Ministério da Saúde espera resultados melhores que na campanha do ano passado, quando 10,25 milhões de pessoas não tomaram a vacina. O Rio de Janeiro foi o estado com a menor cobertura de vacinação.
Onde se vacinar
Para cumprir a meta de vacinar três milhões de pessoas entre 6 meses e 59 anos contra o sarampo, a Secretaria de Estado de Saúde do Rio tem feito um esquema de vacinação itinerante —nesta semana, passando por Campo Grande (zona oeste carioca), Belford Roxo, Itaboraí e Araruama.
Na capital, além dos postos de saúde, há ainda pontos fixos até o fim da campanha “RJ contra o Sarampo”, em março, nos seguintes locais:
- Barcas (Praça XV)
- Rodoviária (Terminal Novo Rio)
- Estação Maracanã (Metrô)
- Aeroporto Santos Dumont
- Central do Brasil (Supervia)
- Iaserj Maracanã
- Hemorio
Perguntas e respostas sobre o sarampo
1. O que é e como se prevenir?
O sarampo é uma doença infecciosa aguda, de natureza viral, grave — especialmente para crianças pequenas —, transmissível e extremamente contagiosa. A única prevenção é a vacina tríplice viral, que também protege contra caxumba e rubéola.
2. Quantas doses de vacina são necessárias?
Para ser considerado protegido, é preciso tomar duas doses na vida, com intervalo mínimo de um mês. O esquema atual do Calendário Nacional de Vacinação é de uma dose da tríplice viral aos 12 meses de idade, e a segunda dose da vacina tetra viral aos 15 meses.
Segundo o Ministério da Saúde, crianças, adolescentes e adultos até 29 anos de idade que ainda não foram vacinados devem receber duas doses. Aqueles que têm de 30 a 49 anos de idade, dose única.
3. Mesmo quem não tem certeza se já foi imunizado deve tomar a vacina?
Sim. Não existe “overdose” de vacina. Caso haja dúvida se foi imunizado ou não, o recomendado é se vacinar, tomando as duas doses. Isso vale para adultos e crianças.
4. Há alguma contraindicação para a vacina?
A vacina é contraindicada para gestantes, bebês menores de 6 meses de idade e pessoas com a imunidade comprometida por causa de alguma doença. No caso das gestantes, elas devem esperar para serem vacinadas após o parto.
5. Como o sarampo é transmitido?
Geralmente, o sarampo se espalha no ar por gotículas respiratórias produzidas ao tossir ou espirrar. Também pode ser transmitido pela saliva (beijo ou bebidas compartilhadas); por contato com a pele (apertos de mão ou abraços); e pelo toque em uma superfície contaminada (cobertor ou maçaneta).
6. Quais são os sintomas?
Os sintomas do sarampo aparecem apenas de 10 a 14 dias após a exposição ao vírus. Os principais sinais são: febre alta, conjuntivite, irritação na pele e manchas vermelhas pelo corpo, tosse, coriza, dor de garganta.
7. Existe tratamento?
Não há tratamento. A estratégia terapêutica é para aliviar os sintomas, com uso de antitérmicos vendidos sem prescrição médica ou vitamina A.
Original: https://oglobo.globo.com/sociedade/bebe-de-oito-meses-primeira-vitima-de-sarampo-no-rio-em-20-anos-veja-onde-se-vacinar-24248256