A Organização Mundial da Saúde divulgou recentemente uma lista intitulada “Ten threats to global health in 2019” na qual cita os principais desafios que a saúde global terá que enfrentar no decorrer deste ano. Dentre os 10 pontos indicados pela OMS, está a “resistência a vacinação”, popularmente conhecido como Movimento Antivacina, ou Anti-vaxxers. Esse movimento cresceu de maneira assustadora nos últimos anos, principalmente nos EUA e Europa, com pessoas que recusavam a se vacinar e/ou vacinar seus filhos, utilizando-se dos mais variados argumentos.
O primeiro impulso do Movimento Antivacina ocorreu em 1998, após a publicação de estudo do pesquisador britânico Andrew Wakefield relacionando a vacina tríplice viral (contra caxumba, sarampo e rubéola) com o autismo. Anos depois, foi comprovado que o cientista havia falsificado boa parte do material utilizando para defender sua tese, mas muitos textos pela Internet ainda insistem em utilizar seu trabalho como prova dos perigos da vacinação entre as crianças. Além dessa correlação indevida entre vacinação e autismo, os antivacinas também afirmam, sempre baseadas em publicações científicas obscuras, que as vacinas são meios utilizados pelos governos para implantar chips de monitoramento na população ou mesmo promover esterilizações em massa. Em muitos casos, as teorias também apontam interesses escusos da indústria farmacêutica na criação e utilização de vacinas.
Os riscos da escolha de não se vacinar afeta muito além que o indivíduo. Uma população vacinada protege aqueles dentro da comunidade que por questão de saúde não podem ser vacinados (pacientes imunossuprimidos, pacientes HIV +), criando um ambiente não contaminado, um “escudo” para essas pessoas. Quando um indivíduo escolhe não se vacinar, ele abre uma brecha para a doença se instalar na comunidade.
De acordo com a OMS, os casos de Rubéola aumentaram em 30% no último ano, sendo que países que haviam erradicado a doença voltaram a reportar novos casos na mesma.
Recentemente, um surto de sarampo, há anos erradicada nos Estados Unidos, se desenvolveu a partir dos parques de diversão da Flórida. Durante as investigações, as autoridades de saúde do país identificaram uma criança não vacinada que iniciou a circulação do vírus. Nos últimos anos, também tem ocorrido diversos surtos de coqueluche no país, outra doença que era considerada fora de circulação. Em 2014, foram 48 mil casos, maior valor desde 1955.
Mesmo com inúmeras iniciativas para conscientizar a população sobre os comprovados benefícios da vacina e os riscos da não vacinação, o movimento continua a crescer. É comum a realização de fóruns e conferencias Antivaxxers, nos quais ganham gradativamente mais adeptos, divulgando teorias e notícias falsas, expandindo sua ideologia e causando a volta de doenças já superadas como tuberculose, catapora, caxumba, hepatite B e difteria.
Baseados em artigos científicos com pouco embasamento teórico – muito deles falsos, como visto anteriormente – e textos apócrifos divulgados na Internet, o movimento antivacina se concentra em países ricos da Europa e nos Estados Unidos. Um estudo internacional mostrou que, por conta de suas ações, algumas cidades do estado da Califórnia apresentam taxas de vacinação similares a de países africanos como o Sudão do Sul.
No Brasil, o pensamento contra o uso de imunizações vem ganhando espaço entre as classes mais altas, mas ainda têm difusão reduzida. Levantamento feito pelo Ministério da Saúde em
2012 revelou que 76% das famílias mais ricas vacinam seus filhos enquanto essa taxa sobe para 81% entre os mais pobres. O movimento antivacina, no entanto, merece atenção também no Brasil, onde muitas campanhas de vacinação têm obtido resultados abaixo do esperado nos últimos anos.
Os imunizantes parecem hoje ser vítimas do seu próprio sucesso. As pessoas esqueceram como era viver sem vacinas e passaram a desacreditar nas mesmas.
Fontes:
https://www.who.int/emergencies/ten-threats-to-global-health-in-2019
https://www.globalcitizen.org/en/content/everything-you-need-to-know-about-the-antivaxxer/
https://saude.ccm.net/faq/6060-movimento-antivacina-argumentos-e-riscos
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