Morte cerebral (MC) é o estado em que o paciente não possui atividade cerebral, incluindo a do tronco cerebral, embora a função circulatória e respiratória estejam preservadas através de meios artificiais. Este estado é equivalente a morte comum, na qual há interrupção total de todos os sistemas do organismo. É importante que que a causa do coma irreversível seja estabelecida e que situações que mimetizam a MC sejam descartadas, como coma induzido por drogas e hipotermia
O exame clínico feito a beira do leito é bastante preciso na identificação da MC e baseia-se na detecção de 3 elementos:
- Destruição cortical difusa que se traduz em coma profundo e em ausência de reatividade aos estímulos externos
- Lesão difusa do tronco cerebral percebida pela perda de reflexos, notavelmente o reflexo pupilar à luz, o vestíbulo-ocular e o corneano
- Lesão bulbar, e, consequentemente, apnéia total e irreversível
A frequência cardíaca é fixa e não responde a atropina. A diabetes insipidus está presente após horas ou dias do momento da MC. As pupilas nunca estarão mióticas. Os reflexos tendíneos profundos podem estar presentes pois o arco reflexo depende somente da medula espinhal. Sinal de Babinski em geral está ausente ou a resposta é oposta, ou seja, há ocorre flexão do hálux.
A apnéia bulbar é demonstrada através da apnéia sustentada após a elevação da PaCO2. Em pacientes com o bulbo preservado, espera-se que a hipercapnia produza um estímulo à respiração. Se o bulbo estiver lesado, o paciente se mantém em apnéia. O teste é feito da seguinte maneira:
- A pressão sistólica deve ser igual ou maior que 100mmHg. Usar vasopressores se necessário
- O paciente deve receber oxigênio a 100% pelo ventilador por pelo menos 10 minutos, atingindo uma PaO2 mínima de 200mmHg
- Reduzir a frequência ventilatória para 10 incursões por minuto
- Ajustar a PEEP do ventilador para 5cm de água
- Se a oximetria de pulso manter-se maior que 95%, coleta-se uma gasometria arterial
- Desconecta-se o ventilador
- Coloca-se um cânula traqueal e administra-se O2 a 100% no fluxo de 6L/min
- Observar por 8 a 10 minutos afim de perceber se há ou não esforço inspiratório
- Em caso de apnéia após este período de espera, colhe-se uma nova gasometria
- Se o PaCO2 for maior ou igual a 60mmHg, o teste é positivo
A prova deve ser interrompida caso a PA sistólica caia para menos que 90mmHg ou se manter-se abaixo de 85% por pelo menos 30 segundos.
O eletroencefalograma pode também ser usado como teste confirmatório em casos selecionados.
Fontes: Longo DL, Fauci AS, Kasper DL, Hauser SL, Jameson JL, Loscalzo J. Harrison’s Principles of Internal Medicine. 19th ed. New York, N.Y: McGraw-Hill Medical; 2014.
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