O tétano é uma doença bacteriana muito rara atualmente, graças a ampla cobertura vacinal. Entretanto, é uma doença altamente letal (em 2013, aproximadamente um terço dos casos de tétano no Brasil evolui para o óbito), sendo portanto compulsória a sua notificação ao Ministério da Saúde.
Todo paciente da emergência que apresente ferida aberta está sujeito ao tétano até que se prove o contrário, através da correta avaliação do trauma e da história vacinal.
Feridas sujas, mordeduras, fraturas expostas, com presença de corpos estranhos e/ou tecidos necróticos e queimaduras, todas elas são de alto risco para infecção de tétano. Do contrário, o risco é baixo (ex. corte com faca de cozinha limpa).
Cientes deste conceito, avaliamos a ferida e colhemos a história vacinal. Isto nos permite determinar se há necessidade de aplicar a imunização passiva e ativa, conforme a tabela abaixo. Importante notar a lógica da tabela porque isso fará com que ela seja lembrada mais facilmente.
História Vacinal | Aplicar vacina? | Aplicar Ighat ou SAT? | Aplicar vacina? | Aplicar Ighat ou SAT? |
Ferida de baixo risco | Ferida de baixo risco | Ferida de alto risco | Ferida de alto risco | |
Desconhecida ou menos de 3 doses | Sim | Não | Sim | Sim |
Pelo menos 3 doses, sendo a última há mais de 10 anos | Sim | Não | Sim | Sim |
Pelo menos 3 doses, sendo a última dose entre 5 e 10 anos | Não | Não | Sim | Não |
Pelo menos 3 doses, sendo a última dose há menos de 5 anos | Não | Não | Não | Não |
A imunização passiva busca neutralizar a toxina tetânica, prevenindo sua ligação irreversível aos neurônios, reduzindo portanto a mortalidade. Ela só é eficaz quando administrada precocemente, pois a toxina já ligada aos neurônios não é neutralizada.
Para este fim dois produtos estão disponíveis: a imunoglobulina antitetânica humana (Ighat) e o soro antitetânico (SAT), derivado de cavalos.
A Ighat é a primeira escolha. Ela deve ser administrada por via IM na dose de 5.000 unidades em dois sítios diferentes (2.500 em cada).
A SAT apresenta maior frequência de reações anafiláticas e menor meia-vida, mas é mais barata. Antes de infundi-la, devemos usar anti-histamínico. Feito isso, injeta-se SAT 20.000 unidades via IM ou via EV em soro glicosado 5% .
Fonte: USP. Emergências Clínicas: Abordagem Prática. 8ª edição. Manole: São Paulo. 2013.