Pergunta : Roberto (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Sou residente de Otorrinolaringologia e tenho bastante interesse na área de plástica facial, especialmente rinoplastia. Existem alguns serviços no Brasil que disponibilizam FELLOWSHIP em plástica facial após a residência em otorrinolaringologia, a semelhança do que ocorre comumente nos EUA, onde ORLs realizam rinoplastia, otoplastia, blefaroplasria, ritidoplastia, frontoplastia, dentre outros procedimentos. Já outros serviços no Brasil oferecem fellowship especificamente em rinoplastia (tanto funcional quanto exclusivamente estética). Gostaria de saber qual a opinião de vocês sobre a aceitação do mercado em relação a otorrinolaringologistas realizando esse tipo de cirurgia, já que muitos têm em mente de que somente cirurgiões plásticos devem atuar nessa área. O mesmo raciocinio poderia ser utilizado para oftalmologistas na área de plástica ocular e mastologistas em cirurgias de mama, mesmo que exclusivamente estéticas.
Meu conceito é de que, por exemplo:
– Um cirurgião plástico faz 2 anos de cirurgia geral e 3 de plástica, sendo que na grande maioria dos hospitais, ele só irá começar a realizar rinoplastias no R5, ou seja, no último ano. Já na residência em otorrino o R3 realiza a rinoplastia e, caso este realize o fellowship, que dura de 1 a 2 anos, este teria uma formação adequada e prolongada nesse tipo de procedimento.
Resposta :
O questionamento entre fazer cirurgia plástica ou otorrino já deve “ser passado para você. A escolha pela otorrino sempre é uma boa escolha porque é uma das melhores especialidades. Tecnicamente, com uma boa residência, vc estará habilitado a realizar as cirurgias básicas de otorrino e também essas citadas por vc, desde que faça uma especialização posterior em cirurgia facial.
Reproduzindo matéria da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial:
“A formação em Cirurgia Crânio-Maxilo-Facial é uma possibilidade do médico ORL se diferenciar no competitivo mercado de trabalho atual e ampliar significantemente suas atuações como cirurgião. Atualmente, é a única área dentro da ORL que possibilita ter um título de especialista reconhecido pelo Conselho Federal de Medicina e Associação Médica Brasileira.
Com a resolução de 2002 do Conselho Federal de Medicina, oficializou-se que no Brasil a Cirurgia Crânio-Maxilo-Facial é uma área de atuação de três especialidades médicas: Otorrinolaringologia, Cirurgia Plástica e Cirurgia de Cabeça e Pescoço.
Antes de qualquer coisa, é importante lembrar que atuar em Cirurgia Crânio-Maxilo-Facial é atuar em Otorrinolaringologia. “Não se trata de uma área diferente do resto da ORL, é como trabalhar em Otologia, Rinologia ou Cirurgia de Cabeça e Pescoço”, explica o Dr. Anderson Castelo Branco, coordenador da Comissão de Cirurgia Crânio-Maxilo-Facial da ABORL-CCF. Ele diz que nem todos os centros de formação em Otorrinolaringologia são capazes de oferecer uma adequada formação básica durante o período de residência médica. “Felizmente, dispomos de diversos centros de formação em Cirurgia Crânio-Maxilo-Facial em todo o Brasil, e o melhor, a meu ver, é que o Otorrinolaringologista pode optar por fazer sua capacitação em um centro de Otorrinolaringologia ou de Cirurgia Plástica ou de Cirurgia de Cabeça e Pescoço”, diz Branco. No site da Associação Brasileira de Cirurgia Crânio-Maxilo-Facial (www.abccmf.org.br) estão disponibilizados os atuais Centros de Treinamento oficiais.”
O outro aspecto a considerar (e essa deve ser sua maior dúvida) é como o mercado aceita um especialista em ORL realizar cirurgias faciais.
Ainda vai levar um tempo para o mercado absorver essa área de atuação relativamente nova e a pressão dos cirurgiões plásticos já é, e continuará grande contra isso.
A rinoplastia (reparadora ou estética) já é bem aceita pelo mercado quando feita por ORL. Otoplastia estética ( orelhas de abano), ritidoplastia, blefaroplastia e frontoplastia ainda são mais consideradas como pertencentes à área do cirurgião plástico.
Mas, da mesma maneira que já existem vários oftalmologistas realizando blefaroplastias, acreditamos que o mercado vai aceitar que os ORL também realizem esses procedimentos cirúrgicos. Essa aceitação vai depender muito do marketing que a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cranio-Facial desenvolver para divulgar isso junto à população.
Alguns procedimentos em Medicina já deixaram de pertencer a somente uma área especifica, como, por exemplo, a colonoscopia que pode ser feita por um gastro ou por um procto. Ou a colocação de stent para acidente vascular encefálico que pode ser feito por um neurologista, por um neurocirurgião ou por um radiologista intervencionista.
Se você realmente gosta dessa área, procure se especializar nela e vá desbravando o mercado. Existe espaço para isso.
Sucesso
Mário Novais