Manual Básico de Psiquiatria
Psicopatologia 2: Alterações da Atenção
Atenção é a direção da consciência, o estado de concentração da atividade mental sobre determinado objeto. O conhecimento desta função é essencial para a compreensão de transtornos como o TDAH.
Manual Básico de Psiquiatria
Psicopatologia 2: Alterações da Atenção
Atenção é a direção da consciência, o estado de concentração da atividade mental sobre determinado objeto.
A atenção pode ser dividida em quatro aspectos básicos:
1 – Capacidade e foco de atenção:
Estão associados à experiência de concentração.
É variável em função de fatores extrínsecos (valor dos estímulos, demanda de respostas predominantes) e de fatores intrínsecos (estado afetivo, grau de motivação, velocidade de processamento e capacidade de memória).
2 – Atenção seletiva:
A seletividade limita as informações, dentre os inúmeros sinais vindos exterior ou do interior, que chegam ao sistema cerebral. Ela aumenta a capacidade de processar e dar conta dos estímulos e das informações mais relevantes para o sujeito. Quando a atenção elege certos estímulos, a capacidade de responder a outros diminui proporcionalmente.
3 – Seleção de resposta e controle executivo.
A atenção está envolvida na seleção não apenas dos estímulos e das informações, mas também das respostas e controle destas. Está, por isso, vinculada a processos cognitivos que envolvem a intenção, o planejamento e a tomada de decisões.
Esses processos estão na base da ação volitiva (atos de vontade), são denominados funções executivas e dependem intensamente de sistemas cerebrais pré-frontais, sobretudo de circuitos subcorticais.
4 – Atenção constante ou sustentada.
Diz respeito à capacidade de manter a atenção ao longo do tempo. O desempenho nessa função depende da relação entre os estímulos-alvo e os estímulos distrativos, do nível de consciência (vigilância), da motivação (incluindo a excitação com a tarefa e seu oposto, o tédio) e da fadiga.
Anormalidades da Atenção:
a) Hipoprosexia: diminuição global da atenção. Perda básica da capacidade de concentração, com fatigabilidade aumentada, dificultando a percepção dos estímulos ambientais e compreensão. Lembranças tornam-se imprecisas, há dificuldade em pensar, raciocinar e integrar informações.
b) Aprosexia: total abolição da capacidade de atenção, por mais fortes e variados que sejam os estímulos.
c) Hiperprosexia: estado de atenção exacerbada, com tendência incoercível a obstinar-se, a deter-se indefinidamente sobre certos objetos.
d) Distração: sinal, não de déficit, mas de superconcentração ativa da atenção sobre determinados conteúdos, com inibição de tudo o mais. É o caso de um estudioso que, pelo fato de sua atenção estar totalmente voltada para um problema, esquece onde estacionou o carro ou coloca meias de cores diferentes…
e) Distraibilidade: é o oposto da distração. A atenção voluntária se torna instável, com dificuldade ou incapacidade para fixar-se ou deter-se em qualquer coisa que implique esforço produtivo. A atenção do indivíduo é muito facilmente desviada de um objeto para outro.
As alterações da atenção podem ocorrer tanto em distúrbios neurológicos como em transtornos mentais.
Os distúrbios neurológicos nos quais se verificam alterações da atenção são, principalmente, as condições onde ocorre diminuição do nível de consciência, como por exemplo:
– Encefalopatias metabólicas;
– Meningoencefalites;
– Acidentes Vasculares Cerebrais;
– Esclerose Múltipla;
– Quadros Tumorais.
Nas demências, as alterações de atenção podem estar relacionadas a quadros episódicos com rebaixamento do nível de consciência (delirium que se sobrepõe ao quadro demencial) ou deterioração cognitiva progressiva.
Em relação aos transtornos mentais (que estudaremos mais detalhadamente depois), podemos citar:
– Transtornos do humor (depressão e bipolar): nos quadros depressivos, geralmente há diminuição geral da atenção (hipoprosexia). Em alguns casos graves, ocorre a fixação da atenção em certos temas depressivos (hipertenacidade), com diminuição da capacidade de mudar o foco da atenção.
Nos quadros maníacos, há diminuição da atenção voluntária e aumento da atenção espontânea, com hipervigilância e hipotenacidade: a atenção salta rapidamente de um estímulo para o outro, sem se fixar em algo.
– Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC): atenção ou vigilância excessiva e desregulada. Há alterações no controle executivo (funções frontais), na memória de trabalho e na seleção de respostas.
– Esquizofrenia: o déficit de atenção é global. Há uma dificuldade importante na filtragem de informações relevantes. Os pacientes esquizofrênicos costumam ser muito suscetíveis de distrair-se com estímulos visuais e auditivos externos.
– Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH): há dificuldade marcante de prestar atenção a estímulos internos e externos. A < strong style="line-height: 1.3em;">atenção constante parece ser a função mais prejudicada. A dificuldade é maior quando se faz necessário um estado de vigilância para detectar informação infrequente, sobretudo quando tal informação não é motivacionalmente importante para o sujeito.
Na próxima parte do Manual Básico de Psiquiatria, vamos falar da capacidade de Orientação e suas alterações. Até lá!
Leia também:
Manual Básico de Psiquiatria. Psicopatologia – Parte 1: Alterações da Consciência
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Adaptado de:
Dalgalarrolo, Paulo. Psicopatologia dos transtornos mentais. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.