Hipotireoidismo Subclínico: Rastreio e Conduta
O hipotireoidismo é uma síndrome resultante de uma produção ou ação deficiente de hormônios tireoidianos, resultando em uma lentificação generalizada de processos metabólicos. Qualquer faixa etária pode ser acometida, mas existe maior prevalência em mulheres e idosos.
A maior parte dos casos (95%) se deve à uma afecção da própria glândula tireoide, isto é, um hipotireoidismo primário. Neste grupo, tireoidite de Hashimoto (uma causa autoimune) é a principal representante. A doença também pode ser classificada como secundária, quando a causa do distúrbio é hipofisária (tumor, cirurgias, TCE, radiação, outros), ou ainda como terciária, quando a causa for hipotalâmica.
Uma condição ainda mais frequente é o hipotireoidismo subclínico. Esta entidade se caracteriza por uma disfunção leve da tireoide, com elevação do TSH acima dos valores de referência, mas com níveis normais de tiroxina livre! Uma dúvida frequente é quando devemos iniciar o tratamento nesses casos. Infelizmente, a resposta não é tão simples…
O rastreio do hipotireoidismo subclínico, através da dosagem sanguínea do TSH, está indicado na presença de fatores de risco. São eles: idade maior que 60 anos, mulheres em idade fértil, grávidas, presença de bócio ou aumento de Ac anti-TPO, história familiar de doença tireoidiana, história de doenças autoimunes (DM1, LES, vitiligo), uso de medicamentos como lítio e amiodarona, história de radiação da cabeça e pescoço (radioterapia), tabagismo, sintomas clínicos compatíveis, cirurgia tireoidiana prévia, disfunção tireoidiana prévia ou iodoterapia, síndrome de Down, síndrome de Turner, hiperprolactinemia, dislipidemia, anemia, insuficiência cardíaca.
De uma forma geral, a literatura autoriza, como indicação absoluta, o tratamento naqueles pacientes com níveis de TSH acima de 10 mU/l, mesmo se os níveis de T4 livre ainda se encontrarem normais. Também são indicações de tratamento: pacientes com aumento do risco cardiovascular, presença de sintomas (o principal é a disfunção cognitiva), gestantes e manifestações sugestivas de autoimunidade. Portanto, devemos analisar o paciente como um todo, procurando identificar fatores de risco, presença de história familiar para a doença, presença de comorbidades, alterações no perfil lipídico, dentre outras manifestações, de modo a orientar nossa decisão terapêutica. As gestantes, por exemplo, constituem um grupo peculiar, uma vez que pequenas alterações do TSH já são indicativas de tratamento. Nesse grupo, o controle rígido dos níveis hormonais da tireoide se deve à sua importância para a formação e desenvolvimento do feto.
O hipotireoidismo clínico, ou seja, com alterações no valor de referência do T4 livre, deverão sempre ser tratados.
Igor Torturella