No post de hoje trouxemos um resumo de uma condição bem frequente nos atendimentos de emergência, a crise asmática. Buscamos fazer uma rápida pincelada na fisiopatologia da doença e nos focamos, principalmente, nas condutas a serem tomadas, com ênfase para a prática real do dia-a-dia.
Manejo da Crise de Asma
No post de hoje trouxemos um resumo de uma condição bem frequente nos atendimentos de emergência, a crise asmática. Buscamos fazer uma rápida pincelada na fisiopatologia da doença e nos focamos, principalmente, nas condutas a serem tomadas, com ênfase para a prática real do dia-a-dia. Como referência, utilizamos o livro Emergências Clínicas do Hospital das Clínicas da FMUSP. Um bom estudo!
Asma é uma doença inflamatória crônica e intermitente das vias aéreas, caracterizada por exacerbações de dispneia, tosse, sibilos, obstrução variável e hiperresponsividade das vias aéreas. Dentre as causas de uma exacerbação asmática, destacamos: infecção viral (mais comum), exposição a aeroalérgenos, mudanças climáticas, outras infecções, uso de algumas medicações (em particular o ácido acetilsalicílico e beta-bloqueadores), estresse emocional e exercício físico.
O diagnóstico de asma no pronto-socorro é clínico. A doença caracteriza-se pela tríade clássica composta por dispneia, opressão torácica e sibilância; tosse é outro sintoma importante. Durante o exame físico, a ausência de sinais clássicos de obstrução, como a sibilância, pode ser enganadora; tórax com ausculta sem ruídos adventícios e murmúrio vesicular diminuído pode ser resultado de uma grave obstrução ao fluxo aéreo.
Os exames complementares podem ajudar a classificar a gravidade da doença, sugerir complicações e fatores precipitantes associados. A saturação arterial de oxigênio deve ser verificada em todos os pacientes (uma SaO2 < 90% indica O2 suplementar). A radiografia de tórax não é solicitada rotineiramente, mas é indicada para confirmar/excluir suspeitas de condição subjacentes (pneumonia, pneumotórax, derrame pleural etc.), em casos de internação e em pacientes sem melhora esperada com o tratamento. A gasometria arterial deve ser colhida em doentes com hipoventilação, desconforto respiratório importante, VEF1 ou pico de fluxo expiratório < 30% do predito. Observe na tabela abaixo os principais diagnósticos diferenciais.
Diagnóstico Diferencial |
Comentários |
Obstrução de vias aéreas superiores (edema de laringe, tumor, corpo estranho etc.) |
Há presença de estridor laríngeo e dificilmente há sibilos bilaterais. |
Disfunção de glote |
Produz graves episódios de obstrução parcial das vias aéreas. |
Doença endobrônquica |
As causas são: tumor, estenose ou corpo estranho. |
Insuficiência Cardíaca Descompensada |
Pode ocasionar sibilos bilaterais. |
Pneumonia eosinofílica |
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Vasculites sistêmicas |
Especialmente a síndrome de Churg-Strauss |
Tumor carcinoide, embolia pulmonar ou DPOC |
Podem se manifestar com sibilos recorrentes. |
A terapêutica imediata mais importante no manejo de broncoespasmo no pronto-socorro é o uso de β2-agonistas inalatórios. Recomendam-se inalações a cada 15 ou 20 minutos, totalizando 3 inalações na primeira hora. O fenoterol é uma medicação mais disponível, mas a preferência se faz pelo salbutamol; a posologia de ambos é de 10 a 20 gotas em 3 a 5 mL de soro fisiológico. Se empregada a bomba de uso pessoal, dose de 4 a 8 jatos a cada 15-20 minutos na primeira hora. Após alta, o doente deve permanecer em uso de β2-agonista inalatório de curta duração (6/6 horas por 7 a 10 dias).
MEDIDA MAIS IMPORTANTE: Β2-agonista inalatório (fenoterol, salbutamol) ——— 10 a 20 gotas em 3 a 5 mL de SF a cada 15-20 minutos, na primeira hora. |
Recomenda-se também a adição de um anticolinérgico nas crises moderadas e graves. A dose ideal de brometo de ipratrópio é de 5,0 mg (40 gotas), em nebulização juntamente com o β2-agonista.
A grande maioria das crises agudas de asma deve ser tratada com corticoide sistêmico oral por 5 a 14 dias, sendo a prednisona
(40 a 60 mg/dia) a droga de escolha. Não há necessidade de retirada gradual do corticoide quando usado por menos de 3 semanas. O corticoide inalatório, típica droga do tratamento de manutenção, deve ser prescrito após a alta do pronto-socorro em doentes com asma persistente, associado ao corticoide oral.
A adição do sulfato de magnésio IV (1,2 a 2 g durante 20 a 30 minutos) é uma opção no manejo das crises graves.
Não se recomenda o uso de metilxantinas (aminofilina), antagonistas dos leucotrienos ou heliox no tratamento da exacerbação da asma. O uso de mucolíticos pode piorar a tosse e o broncoespasmo. O uso de sedativos, hipnóticos e benzodiazepínicos é potencialmente perigoso, pois pode levar o doente a apneia.
A oxigenioterapia objetiva manter a SaO2 92% ( 95% em crianças), de preferência com baixo fluxo.
A intubação orotraqueal pode ser necessária em alguns casos, como em doentes que apresentam alteração do nível de consciência, bradicardia ou iminência de parada cardiorrespiratória.
O doente deve ser reavaliado clinicamente após cada inalação, sendo o PFE ou VEF1 repetido após a primeira hora. A tabela abaixo mostra os tipos de resposta esperados e suas respectivas condutas.
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Características |
Conduta |
Boa resposta |
Estável por 1 hora; Exame físico normal; Ausência de dispneia; PFE ou VEF1 > 60%; SaO2 > 90%. |
Alta com orientações. |
Resposta incompleta |
Achados de alto risco de evolução desfavorável na história; Sintomas leves a moderados; PFE ou VEF1 < 60%; SaO2 < 90%. |
Manter no pronto-socorro com inalação de fenoterol (10 gts) + ipratrópio (40 gotas) a cada 1-2 horas. Oxigenioterapia com cateter nasal. Manter corticoide sistêmico e iniciar sulfato de magnésio IV. Avaliar necessidade de exames. Se ausência de melhora em 6-12 horas, realizar internação. |
Resposta ausente ou muito discreta |
Achados de alto risco de evolução desfavorável na história; Sintomas graves ou piora clínica; PFE ou VEF1 < 30%; PaCO2 45 mmHg; PaO2 < 60 mmHg. |
Prosseguir para internação. Inalação de fenoterol (10 gts) + ipratrópio (40 gotas) a cada 1-2 horas. Oxigenioterapia com cateter nasal. Iniciar corticoide IV e sulfato de magnésio IV. Avaliar necessidade de exames. |
Para finalizar, analise o algoritmo a seguir, procurando revisar tudo que estudamos!
Igor Torturella
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