Pergunta: Raquel Barros (Faculdade de Medicina – USP)
…estou no 5o ano da faculdade, e a cada semestre que concluo fico mais angustiada com minha escolha de especialidade.
Fico em dúvida entre muitas áreas, das mais diversas vertentes. Não consigo, por exemplo, me decidir entre a clínica e a cirugia, pra começo de conversa. A primeira especialidade que considerei foi neurocirurgia, pois me apaixonei por neuroanatomia no 1o semestre, e continuo gostanto até hoje. Status na profissão me interessa muito. O que me deixa meio com o pé atrás é o medo de que a clínica seja meio deixada de lado, por esta ser uma especialidade cirúrgica. Também fico na dúvida sobre a existência de uma diversidade de doenças na especilidade – o que definitivamente quero pra mim! Adoro o tratamento ambulatorial de doenças frequentes como asma, dpoc, hipertensão,DRGE,pneumonias da comunidade, etc., por exemplo. Vejo diariamente os mais diversos erros e tenho vontade de entrar nesse meio para ajudar a população da cidade, pois comigo ali, teria a certeza de que a conduta certa seria tomada. Isso tudo me leva a pensar em fazer clínica geral. O que me deixa meio insegura sobre a clínica geral é a possibilidade de pouca autonomia, de depender sempre de respostas de especialistas, ou ser obrigada a encaminhar pacientes. Ter a palavra final sobre o tratamento do paciente é muito importante para mim. Outra especialidade que me fascina é o intensivismo. Simplesmente adoro o ambiente. Me alegro com desafios, e não tenho problemas com sensibilidade e resultados ruins (quando inevitáveis). Na UTI, fico apreensiva com a possível pouca diversidade de patologias que aparecem (aliás, procede essa informação?), e também com a minha autonomia profissional acerca da decisão de conduta para aquele paciente. Não gostaria de ficar de babá de pacientes de colegas, apenas cumprindo os protocolos da UTI. Gastro. Me apaixonei pela gastro quando tive a matéria, tanto na clínica quanto na cirurgia. A evolução da endoscopia me encanta, pois sou fã de tecnologia, simplesmente adoro aprender coisas novas e me sentir desafiada. Sem falar do meu encanto por pediatria e cirurgia pediátrica, e queda pela oncologia. Viu só? Minha decisão está um caos. Mesmo seguindo os passos propostos por você, não consigo chegar nem perto. A qualidade de vida que espero de uma especialidade não é específica. Adoro trabalhar e estudar, tempo fora pra mim não é problema – nem a duração da residência. Ganho financeiro pra mim é quase que absolutamente dispensável, apenas dependerei dele nos primeiros anos após a faculdade, para pagar a parcela financiada. O que procuro é algo que me dê prazer, realização plena e possibilidade de ser admirada pela especialidade que escolher. Sei apenas do que não quero: tratamento de idosos ou neonatos, ginecologia e obstetrícia estão descartadíssimos. Neurologia não foi considerada porque pacientes idosos são muito frequentes, e a idéia de acompanhar pacientes com alzheimer e outras doenças neurodegenerativas me repele. Dermatologia também está fora de questão. Quero fazer a diferença na vida do paciente, quero salvar vidas – e não penso que isso seja muito frequente na dermato. Quanto ao meu temperamento, este é muito controlado. Não sou necessariamente calma, pois posso ser muito enérgica quando necessário. Gosto de ser objetiva e direta, mas se conversa fiada fizer parte do trabalho, poderei lidar com isso com graciosidade. Mas acho que meu traço mais importante seria o gosto por dificuldades. Me alegra dominar assuntos difíceis. Chego a cogitar nefrologia pela complexidade da fisiologia renal, e infectologia pela linda complexidade do uso de antibioticoterapia. Gosto do difícil e quero ser reconhecida por isso, quero que me chamem quando aparecer um pepino. Sei que isso depende muitíssimo da experiência profissional, claro. Cito isso apenas para que você entenda o tipo de profissional que quero ser. Existem apenas algumas ressalvas: gosto de diversidade de patologias, complexidade, cirurgia (seria ótimo poder trabalhar exercendo minha destreza), pouco contato com idosos ou neonatos, clínica (ah, a clínica…), situações de estresse e que exijam decisão rápida. Às vezes acho que é impossível uma especialidade apenas englobar todas essas exigências que tenho. Já pensei em fazer clínica geral e trabalhar em postinho e dar plantão na UTI. Mas e a cirurgia, como ficaria? Aí pensei eu fazer neurocirurgia mas também atuar como clínica geral – afinal também o serei, não? Faria, então 1x semana de postinho e alguns plantões na UTI. Porém isso seria inviável, pois a experiência prática, o tempo executando determinada atividade é que fazem o bom profissional. Fraciona tanto assim meu tempo não me tornará boa em nenhuma das três áreas. Sentiu a febre? Estou mesmo perdida! Alguma opinião sobre esse lenga-lenga todo? Aproveito a deixa para encorajar o investimento nesse site, visito-o sempre que posso, e adoro! Um abraço e tudo de bom.
Resposta :
Utilizando as informações do seu extenso email e analisando também o seu perfil pessoal, com certeza vc poderá ser feliz em várias especialidades, mas a Terapia Intensiva parece ser a especialidade mais indicada para vc.
Assim, sugiro que reflita na possibilidade de fazer residência em clínica médica e depois residência em Medicina Intensiva. Algumas informações sobre a Medicina Intensiva:
TERAPIA INTENSIVA
Os programas de residência médica em Medicina Intensiva tem duração de 2 anos e tem como pré requisito 2 anos de residência em Clínica Médica, Anestesiologia ou Cirurgia Geral.
Embora a especialidade aparentemente seja estressante, na prática, depois que vc passa a dominar as técnicas básicas como punção de veia profunda, entubaÇÃo endotraqueal, manuseio de respiradores…o dia-a-dia fica bem mais tranquilo, até mais tranquilo que um plantão em emergência.
É uma especialidade de extremos em relação aos sentimentos, porque em alguns casos a felicidade é muito grande quando se tira um paciente de um quadro grave com recuperação total sem sequelas, mas em outros casos se tem um paciente com morte cerebral e uma situação muito triste no relacionamento com os familiares.
A qualidade de vida pode ser boa se vc não ficar na ansiedade de ganhar muito dinheiro dando vários plantões por semana. Com apenas dois plantões de 24 h por semana, um intensivista vai receber entre R$15.000,00 e R$ 20.000,00 por mês (em algumas cidades pode receber até mais do que isso).
Um chefe de UTI pode receber cêrca de R14.000,00 mensais pela chefia e se der mais um plantão de 24 h por semana receberá mais 7.000,00 por mês pelo plantão e ainda poderá receber mais por pacientes que internem na UTI e ele for designado como médico assistente.
Nesses casos, um chefe de UTI pode ultrapassar os R$ 30.000,00 mensais de rendimentos.
E mais : o mercado de trabalho está carente de profissionais dessa área que tenham o titulo de especialista em terapia intensiva.
Sucesso
Mário Novais