MV tem importante papel nas ações de controle da importação e exportação de doenças
Não importa se o seu destino é um país rico como a França ou uma nação pobre como Burkina Faso, onde há uma das maiores incidências de malária no mundo: é preciso buscar uma orientação médica prévia. Segundo estudos científicos menos de 30% dos viajantes no mundo procuram informações sobre como reduzir riscos de adoecimento durante as viagens.
Mudar esse quadro é um dos objetivos da Medicina de Viagem (MV), também conhecida como Medicina do Viajante, que tem como objetivo maior reduzir o risco de adoecimento individual, e evitar a disseminação internacional de doenças. Esta finalidade pode ser alcançada por meio da preparação do viajante, realizada em uma consulta de orientação antes de viajar a partir de recomendações como: a vacinação, uso de medicações, orientações sobre atendimento médico no local de destino ou medidas simples, como cuidado com alimentos, água e higienização das mãos.
A Medicina de Viagem surgiu nos países europeus e na América do Norte em resposta ao crescente deslocamento dos indivíduos dessas regiões para áreas consideradas tropicais. Sua prática fundamenta-se na redução de riscos de adoecimento individual e coletivo, uma vez que a MV tem importante papel nas ações de controle da importação e exportação de doenças. Sua prática inicialmente visava proteger pessoas que viajariam para destinos com risco de contrair doenças infecciosas, como malária e febre amarela. Hoje em dia essa ideia foi expandida.
Um recente estudo australiano publicado no Journal of Travel of Medicine (periódico da Sociedade Internacional de Medicina de Viagem – ISTM – sigla em inglês), dedicado a publicações sobre o tema, evidenciou a importância da orientação pré-viagem para a prevenção de doenças infecciosas em viajantes que se destinavam às regiões desenvolvidas. “Nessa pesquisa, as doenças infecciosas foram diagnosticadas em 85 pacientes. Entre elas, estavam: diarreia do viajante (agravo mais comum entre viajantes), tuberculose, doença de Lyme, sífilis, influenza, entre outras. Assim, o adoecimento durante as viagens pode ocorrer em qualquer região, e por esta razão que a consulta de orientação pré-viagem se faz necessária”, explica a médica infectologista, Professora da Universidade Federal do Pará (UFPA) e pesquisadora do Instituto Evandro Chagas, doutora Tânia Chaves.
Segundo a especialista, há cerca de 10 centros de orientação ao viajante no País. Ela alerta, no entanto, que é preciso ampliar estes serviços e aumentar a formação de “massa crítica” em MV. “Essa é uma área de atuação médica ainda muito jovem em todo mundo. Isto também é um dos fatores limitantes para sua prática mais abrangente, diferente do que observamos em outras áreas médicas”, diz a pesquisadora.
No Brasil, os serviços especializados em MV estão atrelados às universidades, especialmente às faculdades médicas e aos hospitais de ensino. Isso porque é basicamente nesses ambientes onde se tem a oportunidade de apresentar a área aos médicos residentes e aos estudantes de medicina. “Sabemos que precisamos avançar na formação de profissionais nesta área, e já estamos com frentes de trabalho para expandir esta capacitação à distância”, explicou a pesquisadora.
Ela ressalta, no entanto, que existem iniciativas para capacitar médicos em Medicina de Viagem na América Latina. Uma destas iniciativas é o curso de treinamento e capacitação em MV oferecido pela Sociedad Latinoamericana del Viajero (SLAMVI), que já está na sua 12ª edição. As atividades científicas realizadas durante os congressos científicos de áreas afins, como a Medicina Tropical e a infectologia também representam uma boa oportunidade de divulgar esta nova área de atuação para os novos profissionais interessados, comenta a doutora Tânia Chaves.
Ações dirigidas
A pesquisadora aponta ainda a necessidade de várias frentes de trabalho para massificar o entendimento sobre Medicina de Viagem. Entre elas, a divulgação da área em locais de grande circulação, como aeroportos, portos e rodoviárias. Além disso, ela destaca que é preciso construir políticas públicas destinadas não somente ao viajante, mas ao migrante e também aos refugiados, que são os chamados viajantes de longa permanência, e que precisam de atenção à saúde mais abrangente além da orientação antes da viagem.
A informação atualizada em epidemiologia é um dos cernes para a prática de MV. “O nosso País já dispõe de importantes avanços na vigilância epidemiológica e sanitária, áreas da saúde com importante interface com a MV. Entretanto, a ampliação da Medicina de Viagem se faz necessária, e uma das estratégias é a inclusão curricular do tema na formação de profissionais da saúde, especialmente médicos, enfermeiros e farmacêuticos, argumenta Tânia Chaves. Outro ponto que a doutora destaca como obstáculo em algumas situações na prática de MV, é a informação atualizada em epidemiologia.
A diarreia do viajante representa 50 a 70% dos problemas de saúde em viajantes. Outras manifestações como febre, doenças respiratórias e lesões de pele também são observadas como queixa no retorno. Por isso, fique alerta. Medidas simples podem garantir um retorno de viagem tranquilo para você e as pessoas a sua volta.
Fonte:
Sociedade Brasileira de Medicina Tropical