A suspensão do teste da vacina contra coronavírus CoronaVac após a morte de um dos voluntários levantou discussões sobre a politização do caso, uma vez que o presidente Jair Bolsonaro celebrou a paralisação determinada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Na manhã de terça (10/11), o presidente mencionou o episódio ao responder um usuário do Facebook, que perguntou se o Brasil compraria a vacina, desenvolvida em uma parceria do Instituto Butantan, órgão ligado ao governo de São Paulo, e a empresa chinesa Sinovac. Bolsonaro aproveitou para atacar seu adversário político, o governador de São Paulo, João Dória.
“Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Dória queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la. O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”, escreveu o presidente, que tem travado embates públicos com o governador paulista sobre a questão.
Apesar da fala do presidente, o Instituto Butantan afirmou que “o evento adverso grave” (morte do voluntário) não tem qualquer relação com a vacina em teste e, por isso, questionou em entrevista coletiva a paralisação da fase de tese pela agência. Segundo a TV Cultura, emissora estatal paulista, o laudo do IML (Instituto Médico Legal) atesta que o falecimento do voluntário ocorreu por suicídio.
A Anvisa, por sua vez, diz que não recebeu informações detalhadas sobre o caso, nem um posicionamento do comitê internacional independente que supervisiona a pesquisa. Segundo o diretor-presidente da agência, Antonio Barra Torres, a agência tomou então uma decisão “técnica” de suspender a vacinação de novos voluntários até que a “dúvida” sobre o ocorrido fosse esclarecida.
“Depois de saber da ocorrência desse evento, e sem maiores detalhes, seria uma total irresponsabilidade, ouso dizer, beirando a prática criminosa, permitir o prosseguimento (dos testes), sem que tudo seja devidamente esclarecido”, disse Barra, em coletiva de imprensa também nesta terça-feira.
Mais cedo, o secretário de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, o diretor do Butantan, Dimas Covas, e João Gabardo, coordenador-executivo do centro de contingência da covid-19 no Estado, também falaram à imprensa reforçando sua confiança no estudo da CoronaVac.
Gabardo disse confiar na equipe da agência e “não imagina” que a decisão tenha sido tomada para prejudicar o governo de São Paulo, que tem promovido a pesquisa.
Mas o secretário opinou que a suspensão do estudo teve por trás alguma motivação política.
“Provavelmente, essa informação tenha sido utilizada por alguém com interesse de criar um fato. Isso não tem nenhuma dúvida. Estava sendo discutido tecnicamente um assunto e, de alguma maneira, alguém uso essa inforação para tentar criar essa informação”, disse ele.
Gabardo disse ainda que a suspensão é “injusta” e que a morte do voluntário ocorreu “quase um mês” depois de a pessoa ter participado do estudo.
Não foi divulgado se ele recebeu a vacina em teste ou uma vacina placebo (sem eficácia) — esse tipo de informação é mantido em sigilo, inclusive para o voluntários, com objetivo de que não adotem comportamentos diferentes (como se proteger mais ou menos de contágio) que possam comprometer o resultado dos estudos.
A Anvisa esclareceu que a suspensão é apenas para novas vacinações de voluntários. Demais etapas da pesquisa, como análise dos voluntários que já foram vacinados, podem prosseguir.
Original: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-54885955